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Gestão escolar: como manter as famílias engajadas após mais de um ano de ensino remoto?

Estreitar vínculo com os familiares, conhecer a sua realidade, manter os canais de comunicação abertos, oferecer ajuda e ter escuta ativa e empatia são alguns dos caminhos


POR:

Juliana Faddul


Um dos grandes legados da experiência do ensino remoto, durante a pandemia, foi aproximar as famílias do ambiente escolar. Se, no ano passado, a dificuldade foi construir um vínculo e uma parceria com os familiares, agora, depois de mais de um ano de aulas no ambiente digital, ou com a volta ao modelo virtual depois do agravamento dos casos de covid-19, o desafio é manter esse relacionamento e o engajamento. Neste contexto, os gestores são peça fundamental para apoiar os professores.


Felipe Nóbrega, diretor da Escola Municipal Walmir de Freitas Monteiro, no Rio de Janeiro, diz que a participação da família na vida escolar dos filhos aumentou e ganhou mais importância, pois a escola acabou entrando no ambiente doméstico. “O acompanhamento dos alunos, que os professores faziam nas aulas presenciais, foi transferido totalmente para as famílias durante a pandemia”.


Ele destaca, no entanto, que muitos familiares foram alçados a essa posição sem necessariamente ter a formação necessária ou aproximação com o ensino. “É preciso compreender quais deficiências o aluno ou o familiar têm e atender cada caso especificamente. Nós precisamos entender as famílias antes de engajá-las”. Para lidar melhor com essa situação, o diretor explica que fez um documento colaborativo com os professores, a fim de acompanhar a situação e o desenvolvimento de cada aluno.


Esse acompanhamento também foi fundamental na Escola Estadual Joaquim Murtinho, em Campo Grande, no Mato Grosso. Lá, a coordenação em conjunto com os professores utiliza uma planilha do Google Classroom para estar a par das entregas das atividades pelos alunos nos prazos determinados. “O professor faz o registro, e a coordenação já contata os familiares para saber porque o estudante não realizou as tarefas e o que pode ser feito para que ele as execute”, conta Izadir Oliveira, professor e coordenador da escola e especialista em gestão escolar democrática. “Há um trabalho muito grande da direção, da coordenação e dos professores em relação à empatia com os alunos e com os familiares, o que ajuda muito e facilita a relação”.


Ambos os gestores sugerem lembrar periodicamente os professores e funcionários da escola de que a empatia é fundamental para esta situação de pandemia que estamos vivendo. Eles também avaliam, com base no uso das planilhas, que, durante a pandemia, houve um aumento de cerca de 60% a 70% no engajamento dos alunos que contavam com o incentivo das famílias.


Mapeamento do ambiente familiar e canais de diálogo Dada a importância dos pais e responsáveis para o envolvimento dos alunos nas atividades escolares, Izane Maria Pereira, pedagoga da rede municipal de Canoinhas, em Santa Catarina, acredita que é necessário mapear a família de cada aluno.


“É preciso criar vínculos estreitos com a família, buscar conhecer quem é quem no ambiente doméstico, quem pode ajudar, quem tem tempo e como pode auxiliar”, afirma. Para isso, a educadora sugere dialogar com cada família e pedir para que indiquem o nome de uma pessoa que possa acompanhar o aluno de perto, atuando como um “tutor”. “Quando as famílias têm a compreensão da importância da formação educacional, elas são aliadas no processo de escolarização do estudante e corresponsáveis pelo seu desenvolvimento pedagógico”.


Isso, no entanto, não deve ser uma via de mão única, segundo Izane. Assim como Felipe e Izadir, ela considera que deve haver uma contrapartida, um dever da escola de prestar auxílio às famílias quando necessário e dentro das suas possibilidades. “O gestor precisa trabalhar para que tanto ele como os profissionais da escola encurtem o distanciamento da família com a comunidade escolar”.


A educadora também propõe reservar um tempo para ouvir alunos e familiares, mesmo fora dos dias e horários de funcionamento da escola, e fazer uma espécie de “plantão de dúvidas”, experiência que já aconteceu na Joaquim Murtinho, em Campo Grande. “Fizemos um esquema de revezamento entre diretor e coordenadores para que sempre um educador estivesse presente nos diferentes turnos, de modo a atender familiares e alunos que se apresentam na escola com problemas e dificuldades diversas”, conta o coordenador Izadir.


Outro ponto fundamental para manter o engajamento das famílias é manter os canais de comunicação abertos e os contatos atualizados. Aplicativos de mensagens, como o Whatsapp e Telegram, podem ser uma alternativa rápida e eficaz para solucionar dúvidas rápidas que os familiares podem ter. “Mas é preciso estabelecer limites para não sobrecarregar gestores e professores. “Só de colocar no status do Whatsapp a hora que você estará disponível já se torna um filtro para que alunos e familiares entendam quando você poderá responder”, recomenda Izadir.


Contexto doméstico e disparidades Ao se aproximar das famílias, Izadir percebeu que esse contato mais estreito também jogou luz em outros graves problemas que avançaram durante a pandemia, como a violência doméstica, os abusos contra crianças e a insegurança alimentar, e que coube à escola lidar com eles. “Para os dois primeiros, a atuação do conselho tutelar e a promotoria pública nunca se fez tão importante”, afirma. “Quanto à questão da alimentação, decidimos utilizar a verba da merenda, com as devidas autorizações e orientações legais do sistema jurídico do Estado, para providenciar cestas básicas a aqueles que precisavam e que puderam ir até a escola para buscá-las”.


Outra disparidade que se tornou evidente para os gestores foi em relação à tecnologia - o acesso a equipamentos e dispositivos e conexão de rede. De acordo com Izadir, é preciso conhecer as diferenças em relação ao acesso e ao domínio das tecnologias que, neste momento, proporcionam o aprendizado, assim como superar o senso comum de que os jovens têm domínio completo dos recursos tecnológicos. “Muitos não conseguem dominar as regras básicas para elaboração de um texto no Word, e isso se estende também aos familiares”.


Segundo o gestor, a presença de um familiar que saiba lidar com essas ferramentas pode ser fundamental neste momento, já que a primeira dificuldade, logo ao abrir um programa, pode desmotivar o aluno. “Ao mostrar para a criança como acessar o Word, por exemplo, o familiar já está realizando uma atividade pedagógica”, diz. Caso os familiares também não saibam mexer nos programas, Izadir sugere reservar um tempo para que professores ou gestores deem assistência aos pais.


A pedagoga da rede municipal de Canoinhas (SC) ressalta que, no caso das famílias e alunos que não têm dispositivos ou acesso à internet, a impressão de tarefas pode ser uma alternativa para evitar a evasão. “Nós fazemos um monitoramento quinzenal com retorno e retirada de materiais impressos para quem não possui computador ou para quem ainda prefere fazer as tarefas impressas”. O coordenador da Joaquim Murtinho, em Campo Grande, conta que foi criado um grupo de Whatsapp oficial da escola, especialmente para agendamento de recolhimento e devolução das atividades escolares.


Busca diversificada A busca ativa por alunos que não estão acompanhando as aulas não só se torna ainda mais essencial, devido à possibilidade maior de evasão durante a pandemia, como deve se adaptar às novas situações e recursos disponíveis. As sugestões dos gestores passam por incluir outros endereços, como de familiares e vizinhos, já que por conta do isolamento algumas famílias acabam se dirigindo para a casa de vizinhos ou de parentes para ter conexão de internet. Os gestores chamam a atenção também para as constantes mudanças de chip, o que pode dificultar o contato. Uma alternativa então é considerar as redes sociais, como Facebook e Instagram, de mais de um parente.


Para Izane, a busca ativa pode contar com o reforço dos vários profissionais da escola. “Além daqueles que comumente atuam no relacionamento com os familiares, como orientadores educacionais, coordenadores pedagógicos e gestores, outros profissionais que conhecem algum familiar podem contribuir e somar nesse engajamento, ampliando o esforço e os canais de comunicação”.

Fonte: Portal Nova Escola.

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